segunda-feira, 23 de março de 2009

São Cipriano

A lenda de São Cipriano - O Feiticeiro - confunde-se com um outro célebre Cipriano imortalizado na Igreja Católica, conhecido como Papa Africano. Apesar do abismo histórico que os afasta, as lendas combinam-se e os Ciprianos, muitas vezes, tornam-se um só na cultura popular. É comum encontrarmos fatos e características pessoais atribuídas equivocadamente. Além dos mesmos nomes, os mártires coexistiram, mas em regiões distintas.
Cipriano – O Feiticeiro - é celebrado no dia 2 de Outubro. Foi um homem que dedicou boa parte de sua vida ao estudo das ciências ocultas. Após deparar-se com a jovem (Santa) Justina, converteu-se ao catolicismo. Martirizado e canonizado, sua popularidade excedeu a fé cristã devido ao famoso Livro de São Cipriano, um compilado de rituais de magia.
A fantástica trajetória do Feiticeiro e Santo da Antioquia, representa o elo entre Deus e o Diabo, entre o puro e o pecaminoso, entre a soberba e a humildade. São Cipriano é mais que um personagem da Igreja Católica ou um livro de magia; é um símbolo da dualidade da fé humana.


O Feiticeiro

Filho de pais pagãos e muito ricos, nasceu em 250 d.C. na Antioquia, região situada entre a Síria e a Arábia, pertencente ao governo da Fenícia. Desde a infância, Cipriano foi induzido aos estudos da feitiçaria e das ciências ocultas como a alquimia, astrologia, adivinhação e as diversas modalidades de magia.
Após muito tempo viajando pelo Egito, Grécia e outros países aperfeiçoando seus conhecimentos, aos trinta anos de idade Cipriano chega à Babilônia a fim de conhecer a cultura ocultista dos Caldeus. Foi nesta época que encontrou a bruxa Évora, onde teve a oportunidade de intensificar seus estudos e aprimorar a técnica da premonição. Évora morreu em avançada idade, mas deixou seus manuscritos para Cipriano, dos quais foram de grande proveito. Assim, o feiticeiro dedicou-se arduamente, e logo se tornou conhecido, respeitado e temido por onde passava.


A Conversão Cristã

Vivia em Antioquia a bela e rica donzela Justina. Seu pai Edeso e sua mãe Cledonia, a educaram nas tradições pagãs. Porém, ouvindo as pregações do diácono Prailo, Justina converteu-se ao cristianismo, dedicando sua vida as orações, consagrando e preservando sua virgindade.
Um jovem rico chamado Aglaide apaixonou-se por Justina. Os pais da donzela (também convertidos à fé Cristã) concederam-na por esposa. Porém, Justina não aceitou casar-se. Aglaide recorreu a Cipriano para que o feiticeiro aplicasse seu poder, de modo que a donzela abandonasse a fé e se entregasse ao matrimônio.
Cipriano investiu a tentação demoníaca sobre Justina. Fez uso de um pó que despertaria a luxúria, ofereceu sacrifícios e empregou diversas obras malignas. Mas não obteve resultado, pois Justina defendia-se com orações e o Sinal da Cruz.
A ineficácia dos feitiços fez com que Cipriano se desiludisse profundamente perante sua fé e se voltasse contra o demônio. Influenciado por um amigo cristão de nome Eusébio, o bruxo converteu-se ao cristianismo, chegando a queimar seus manuscritos de feitiçaria e distribuir seus bens entre os pobres.


Os Fantasmas

Em um capítulo de seu livro, Cipriano narra um episódio ocorrido após sua conversão:
"Numa noite de sexta-feira, caminhava por uma rua deserta quando se deparou com quatorze fantasmas. Essas aparições eram bruxas que imploravam ajuda. Cipriano respondeu-lhes que havia se arrependido de sua vida de feiticeiro, e que havia se tornado temente a Jesus Cristo. Logo depois caiu em sono profundo, e sonhou que a oração do Anjo Custódio o livraria daqueles fantasmas. Ao despertar teve uma breve visão do Anjo. Assim, auxiliado pela oração de São Gregório e do Anjo Custódio, esconjurou e livrou a alma atormentada das bruxas."


A Morte

As notícias da conversão e das obras cristãs de Cipriano e Justina, chegaram até o imperador Diocleciano que se encontrava na Nicomédia. Assim, logo foram perseguidos, presos e torturados. Frente ao imperador, viram-se forçados a negar a fé cristã. Justina foi chicoteada, e Cipriano açoitado com pentes de ferro. Não cederam.
Irritado com a resistência, Diocleciano ainda lançou Cipriano e Justina numa caldeira fervente de banha e cera. Os mártires não renunciaram, e tampouco transpareciam sofrimento. O feiticeiro Athanasio (que havia sido discípulo de Cipriano) julgou que as torturas não surtiam efeito devido a algum sortilégio lançado por seu ex-mestre. Na tentativa de desafiar Cipriano e elevar a própria moral, Athanasio invocou os demônios e atirou-se na caldeira. Seu corpo foi dizimado pelo calor em poucos segundos.
Após este fato, o imperador Diocleciano finalmente ordenou a morte de Justina e Cipriano. No dia 26 de Setembro de 304, os mártires e um outro cristão de nome Teotiso, foram decapitados às margens do Rio Galo da Nicomédia. Os corpos ficaram expostos por 6 dias, até que um grupo de cristãos recolheu e os levou para Roma, ficando sob os cuidados de uma senhora chamada Rufina. Já no império de Constantino, os restos mortais foram enviados para a Basílica de São João Latrão.


O Livro

O famoso Livro de São Cipriano foi redigido antes de sua conversão, mas o mistério que envolve a vida do Santo interfere também em seu livro. Uma parte dos manuscritos foi queimada por ele mesmo. A questão é que não se sabe quando, e por quem os registros foram reunidos e traduzidos do hebraico para o latim, e posteriormente levados para diversas partes do mundo.
No decorrer dos anos, o conteúdo sofreu alterações significativas. Houve uma adaptação de acordo com as necessidades e possibilidades contemporâneas; além da adequação necessária na tradução para os vários idiomas. Esses fatores colocam em dúvida a fidelidade das versões recentes, se comparadas às mais antigas.
Atualmente, não é possível falar do Livro, mas sim dos Livros de São Cipriano. As edições capa preta e capa de aço; ou aquelas intituladas como o autêntico, o verdadeiro, ou o único, enfatizam um mesmo acervo mágico central, e ainda exaltam o cristianismo e a vitória do bem sobre o mal. Porém, existem grandes diferenças no conteúdo. Enquanto alguns exemplares apresentam histórias e rituais inofensivos, outros apelam para campos negativistas e destrutivos da magia.


Num aspecto geral, encontra-se instruções aos religiosos para tratar de uma moléstia, além de cartomancia, esconjurações e exorcismos. A Oração da Cabra Preta, Oração do Anjo Custódio e outras da crença popular também são inclusas (Magnificat, Cruz de São Bento, Oração para Assistir aos Enfermos na Hora da Morte, etc.). Além dos rituais de como obter um pacto com o demônio, como desmanchar um casamento e da caveira iluminada com velas de sebo.
No Brasil, o Livro de São Cipriano é usado largamente nas religiões afro-brasileiras, e se tornou um "almanaque ocultista" de fácil acesso que se dilui na crendice popular. Há ainda os mitos que o cercam: muitos consideram ser pecado possuí-lo ou simplesmente tocá-lo. De qualquer forma, o tema São Cipriano e tudo que o cerca, é um campo de estudo e pesquisa muito interessante para os ocultistas, religiosos e aventureiros.

Chile adota feriado protestante e quer extinguir feriado católico

CHILE - Países latinos há muito tempo celebram uma variedade de feriados públicos de origem católica romana, desde o dia de Corpus Christi até o dia de São Pedro e de São Paulo. Mas este ano, o Chile estabeleceu um feriado regional sem precedentes, e declarou o dia 31 de outubro como feriado público em honra às “igrejas evangélicas e protestantes”. O novo feriado celebra a data de 1517, quando Martinho Lutero fixou suas 95 teses na porta de uma igreja em Wittenberg, Alemanha, iniciando assim a Reforma Protestante. Somente a Eslovênia e alguns estados da Alemanha estabeleceram essa data como feriado.
O que torna incomum a decisão de celebrar a Reforma é o fato de que o Chile é o único país da América Latina que ainda possui um Partido Democrático Cristão (católico). Apesar disso, o novo feriado foi aprovado com votação unânime no Congresso. Os políticos parecem reconhecer uma oportunidade.
No último censo, em 2002, em um país que era reconhecidamente católico, 15% da população disseram que eram “evangélicos” (na América Latina, o termo é um sinônimo para protestantes). As escolas estatais oferecem agora a escolha entre um ensino religioso católico ou evangélico, e o exército tem uma capelania de ambas as igrejas.

Marco histórico

Mas tudo tem um preço. O Chile pode até ter uma reputação ruim de exigir um trabalho diligente, mas agora o país tem 16 feriados nacionais por ano (sem contar as “pontes” em que os chilenos aproveitam para emendar os dias quando o feriado cai perto do fim de semana). Um dia de trabalho perdido vale cerca de 735 milhões em prejuízo na produtividade. Então, o governo quer aos poucos retirar dois ou três feriados dedicados à Virgem Maria.

domingo, 22 de março de 2009

Gárgula




O termo gárgula é majoritariamente aplicado ao trabalho medieval, mas através das épocas alguns significados de escoar a água do telhado, quando não conduzidos por goteiras, foram adotados. No antigo Egito, as gárgulas escoavam a água usada para lavar os vasos sagrados, o que aparentemente precisava ser feito no telhado plano dos templos. Nos templos gregos, a água dos telhados passava através da boca de leões os quais eram esculpidos ou modelados em mármore ou terracota na cornija. Em Pompéia, muitas gárgulas de terracota que foram encontradas eram modeladas na forma de animais.
Uma lenda francesa gira em torno do nome de São Romanus (“Romain”) (631 - 641 D.C), o primeiro chanceler do rei merovíngio Clotaire II, que foi feito bispo de Ruão. A história relata como ele e mais um prisioneiro voluntário derrotaram Gargouille, um dragão-do-rio (ou serpente-do-rio) que vivia no rio Sena, em Paris, e que comia navios. Um dia, o bispo atraiu a Gárgula para fora do rio com um crucifixo, até à praça principal. Lá, os aldeões a queimaram até a morte.
Apesar da maioria ser figuras grotescas, o termo gárgula inclue todo o tipo de imagem. Algumas gárgulas são esculpidas como monges, outras combinando animais reais e pessoas, e muitas são cômicas.

Gárgulas, ou mais precisamente quimeras, foram usadas na decoração no século XIX e no começo do século XX em construções de cidades como Nova Iorque e Chicago. Gárgulas podem ser encontrados em muitas igrejas e prédios.
Uma das mais impressionantes coleções de gárgulas modernas pode ser encontrada na Catedral Nacional de Washington, nos Estados Unidos. A catedral iniciada em 1908 é encrustada com demônios em pedra calcária. Essa coleção também inclue Darth Vader, um político entortado, robôs e muitos outras modernizações da tradição antiga. No século XX, o neogótico produziu muitas gárgulas modernas, notavelmente na Universidade de Princeton, Universidade de Duke e na Universidade de Chicago.

Na ficção contemporânea, as gárgulas são tipicamente representadas como uma (geralmente) raça humanóide alada como características demoníacas (geralmente chifres, rabo, garras, e podem ou não ter bicos). Gárgulas podem geralmente usar suas asas para voar ou planar, e muitas vezes são representadas tendo uma pele rochosa, ou sendo capazes de se transformar em pedra de um jeito ou de outro, uma referência as suas origens de esculturas

Os Protestantes no Brasil

A Igreja católica foi a religião oficial no Brasil entre 1500 e 1889, quando a República a separou do Estado. Esta garantia de exclusividade provocou uma certa acomodação na Igreja, pois todos eram católicos.
A Inquisição garantia a homogeneidade católica da nação. A falta de melhor trabalho de evangelização, de catequese... transformou o catolicismo mais numa herança cultural, sociológica, do que numa convicção de vida. A situação mudou, no século 19, por dois motivos:
· primeiro: na esfera política, os liberais achavam que o protestantismo era a religião da democracia e do progresso;
· segundo: as grandes imigrações alemãs e os comerciantes ingleses, que colocaram o catolicismo face a face com um interlocutor diferente: o protestante.

CALVINISTAS

1555: Villegaignon, calvinista francês, conquistou a baía da Guanabara e realizou o primeiro culto calvinista no Brasil. Entusiasmado, Calvino enviou para o Brasil o pastor Jean de Lery, que realizou cultos e atos religiosos calvinistas durante os cinco anos de ocupação francesa.
1630: Os holandeses conquistam Pernambuco, dominando, por 24 anos, 14 capitanias no nordeste brasileiro. Eram calvinistas e, com a chegada de Maurício de Nassau, implantam a estrutura religiosa calvinista. Até 1654 foram organizadas 24 igrejas e congregações. Foram relativamente tolerantes com os católicos e acabaram também por adotar a escravatura. A experiência terminou com a derrota holandesa.

PROTESTANTES e IMIGRAÇÃO ALEMÃ

Em 1824, teve início a imigração alemã e, com ela, chegou ao Brasil a Igreja Evangélica de Confissão Luterana. A missão alemã procurou logo enviar pastores para seu atendimento e, ao mesmo tempo, fundar escolas onde pudessem cultivar a língua alemã e o aprendizado da Sagrada Escritura.
A Igreja luterana se considerava uma Igreja étnica, isto é, voltada apenas para os imigrantes e seus descendentes. Sua expansão, até hoje, se identifica com a presença do imigrante de origem alemã. Como o catolicismo era a única religião permitida no Brasil, aos evangélicos era permitida a construção de lugares de culto, mas sem sinais exteriores, isto é, sem torres nem sinos.
O único matrimônio reconhecido era o católico. Deste modo, os filhos permaneciam ilegítimos e os casais amasiados. Só com o Decreto 1144, de 1863, concedeu-se aos ministros evangélicos o direito de celebrar o matrimônio com efeitos legais.
O mérito da Igreja luterana, sobretudo no atendimento aos imigrantes, foi grande. Seus pastores foram conselheiros, juízes, professores, médicos. Ao redor da igreja e da casa do pastor, a comunidade encontrava rumo para sua vida.

A SEDUÇÃO PROTESTANTE

Depois da Independência (1822), os políticos liberais, fascinados pelos Estados Unidos, achavam que o progresso viria só com o protestantismo. Mas, percebendo a vantagem de controlar a Igreja Católica, preferiram o caminho da reforma do catolicismo por dentro.
O projeto tornou-se claro com a lei de 1855 que fechou todos os noviciados e proibiu às Ordens religiosas de receberem novos vocacionados até uma nova lei que nunca saiu, causando o esvaziamento dos conventos e mosteiros.Quando foi proclamada a República, em 1889, não chegavam a 10 velhinhos os membros da Ordem franciscana.
O mesmo Estado que fazia questão de ser oficialmente católico, empenhava-se em privar a Igreja de seus quadros. Isso revela uma face permanente das elites brasileiras, de ontem e de hoje: o desprezo pelo povo, por seus costumes e fé.

METODISTAS e PRESBITERIANOS

Em 1835 chegou ao Brasil o jovem pastor F. Pitts, enviado pela Conferência Geral da Igreja Metodista Episcopal dos EUA. Iniciou assim a propaganda explícita do protestantismo no Brasil. Destacou-se, entre outros, o pastor Daniel Kidder que, preocupado com o alcoolismo reinante, promoveu a fundação de Sociedades de Temperança. Um dos projetos dos metodistas era a propagação da Bíblia. Isso recebeu inclusive a colaboração de sacerdotes.
A missão protestante teve continuidade em 1859, com a chegada de pastores da Igreja Presbiteriana. Dentre eles, cita-se A. Simonton e A. Blackford. Grande colaborador foi o ex-padre paulista José Manuel da Conceição, primeiro pastor presbiteriano brasileiro. Conceição retornou às paróquias onde tinha trabalhado, nelas instalando comunidades evangélicas.
A ação protestante dirigiu-se sobretudo aos imigrantes evangélicos e aos trabalhadores da indústria e dos cafezais. Foi para eles que, a partir de 1920, entraram a Assembléia de Deus e a Congregação Cristã, das quais praticamente derivam todos os pentecostalismos, especialmente a "Brasil para Cristo" e a "Igreja do Evangelho Quadrangular".
Embora desprezados, tanto pelo catolicismo como pelo protestantismo histórico, seu estilo popular conquistou as massas marginalizadas e migratórias do Brasil.
Os evangélicos, num primeiro momento, achavam que não deveriam vir para a América Latina, pois, de certo modo, era cristã pelo catolicismo. Mas chegaram à conclusão de que o catolicismo, com suas devoções e imagens, era pagão. Explica-se assim seu esforço em "cristianizar" o continente católico.

O FERVOR PENTECOSTAL

Se no século 19 e início do 20, o protestantismo foi identificado com progresso, democracia, cultura, liberdade..., na segunda metade do século 20 percebeu-se um enfraquecimento dos evangélicos, devido também à difusão do pentecostalismo, vindo dos Estados Unidos, cujos adeptos cultivam uma viva experiência do Espírito Santo.
O sentimento religioso daí advindo, a paz adquirida, os rígidos princípios morais que prega..., lembram, a muitos pobres e migrantes das periferias, a antiga vida rural. A cidade é grande e as pessoas se confundem, se perdem... Nesse contexto, as igrejas pentecostais - os crentes - obtêm muitos resultados.
Sua estrutura simples, a facilidade de ser pastor, o espírito familiar, a expansão dos sentimentos..., tornam a vida mais leve, pois "Jesus me salvou". Possuem uma linguagem e estrutura muito cativantes para as periferias e favelas, onde sua pregação moralizante consegue diminuir a violência. Impressionante é como de uma igreja sai outra, como se criam novas denominações.

O USO POLÍTICO da FÉ

A partir de 1969, o governo americano de Richard Nixon, preocupado com o trabalho de transformação social da Igreja católica, viu no catolicismo uma ameaça ao capitalismo liberal, e procurou, com apoio de recursos e pessoas, difundir um pentecostalismo que se contentasse mais com a salvação da alma e deixasse o resto ao encargo do governo.
O regime militar brasileiro (1964-1984) restringiu a entrada de missionários católicos estrangeiros e facilitou a de pastores evangélicos americanos. Deste modo, as Comunidades Eclesiais de Base das periferias e dos interiores pobres se defrontaram com um concorrente que oferecia uma salvação mais rápida e superior: o pastor crente.
O mesmo desafio encontram as Igrejas protestantes históricas (luterana, presbiteriana...), pois há uma preferência pelas igrejas que oferecem conforto espiritual e humano e possuem um mínimo de organização: basta a Bíblia ou alguns textos dela. Mas, muitos crentes, motivados pelo vizinho militante e católico, também estão se empenhando nos movimentos populares.
No dia da posse do governador do Rio, Anthony Garotinho, presbiteriano, não houve uma Missa solene com o Cardeal, mas um animado culto evangélico na praça. Há pouco tempo ninguém imaginaria isso no Brasil católico.

Contra a História


CARICATURAS REPRESENTANDO A ORIGEM DO PAPADO. ESTA CARICATURA ILUSTRA A UMA OBRA ESCRITA POR LUTERO INTITULADA: "CONTRA O PAPADO DE ROMA, FUNDADO PELO DIABO", PUBLICADA EM 1545.









A caricatura abaixo, intitulada “A besta papal de sete cabeças”, de 1530, representa o papa e a hierarquia eclesiástica sob uma cruz na qual está escrito, em alemão: “por dinheiro, uma bolsa de indulgências”. Caricaturas como esta e outras semelhantes foram impressas e circularam amplamente na Europa nessa época.





Uma particularidade comum à época da Reforma Protestante é, muitas vezes desconhecida de muitos historiadores: as violentas caricaturas alusivas à figura do papa e da Igreja Católica. Uma delas nos parece bastante interessante: no fundo do desenho, aparecem três homens vestidos como mártires, segurando suas cruzes. No detalhe, seus seguintes nomes: Melanchton, Lutero e Calvino. No centro do desenho, uma besta gigantesca, representando o demônio, abre uma enorme boca, e dentro dela, engole o papa e toda sua corte do Vaticano. Mas há outras: em outro desenho, num prato da balança aparecem o papa e os sacramentos e símbolos da Igreja, enquanto no outro lado da balança, o peso da Bíblia. Quando medidos, a balança da Igreja parece leve demais, enquanto a Bíblia pesa tanto, a ponto de colocar o papa lá em cima. E ao lado, os reformados comparando o peso da balança, tiram a seguinte conclusão: a Igreja pesa menos, ou seja, não vale muita coisa, na opinião dos protestantes. Sem contar outras, alusivas a denúncia de torturas, execuções e perseguições dos católicos contra os protestantes.Neste aspecto, os protestantes foram grandes satíricos de imagens caricaturais do catolicismo, inclusive, verdadeiros criadores de imagens exageradas, alusivos à inquisição e a própria cúpula da Igreja. Que algumas caricaturas possam aparentar ofensiva aos católicos, e embora os protestantes não fossem um poço de santidade e tolerância, a Igreja Católica, em parte, contribuiu para sua imagem de perseguidora e intolerante dos reformados.Se a Igreja não era poupada nos desenhos, que dirá da monarquia absolutista? O rei Luis XIV, “o Sol”, foi ridicularizado em várias caricaturas. Uma delas diz respeito às suas investidas amorosas: o rei, passando a mão na bunda das condessas e no seio das marquesas. Outras, alusivas às suas guerras caras e onerosas para a Franca. Em particular, uma moeda cunhada pelos detratores do rei, homenageava seus fracassos no campo de batalha: veni, vidi, sed non vici (vim, vi, mas não venci!). Não se fala aqui de uma sociedade democrática, mas de uma sociedade religiosa e cujos poderes monárquicos eram vistos em torno do sagrado.Os protestantes não fugiam também das críticas. Em particular, a fama mais comum do protestantismo é o puritanismo hipócrita. Da mesma forma que um padre era visto como um mercador, a mesma fama pegou aos pastores protestantes. Raramente se poupou caricaturas de pastores desonestos e charlatões ou mesmo o mercantilismo das igrejas protestantes. As piadas entre católicos sobre os protestantes, além das provocações sobre as origens obscuras do luteranismo, são particularmente famosas. Mesmo assim, a sátira é muito mais velha do que se possa imaginar, e, em específico, as caricaturas refletem uma certa dose de humor do ridículo, que é denunciado pelo riso. É a velha máxima Ridendo Castigat mores (rindo-se, castigam-se os costumes).